domingo, fevereiro 06, 2005

Copiar é Proibido

Público, 6 de Fevereiro de 2005

Universidade de Helsínquia
não aceita mais alunos do Porto

Por SANDRA SILVA COSTA, Sábado, 05 de Fevereiro de 2005

Uma universidade de Helsínquia decidiu cortar relações institucionais e não receber mais estudantes provenientes da Universidade do Porto (UP) ao abrigo do programa Erasmus, que fomenta o intercâmbio de alunos entre universidades europeias. Tudo porque um aluno da UP foi surpreendido com umas notas relativas à matéria antes do início de um exame. Aconteceu em Dezembro de 2004 e o estudante foi impedido de concluir a disciplina em causa.
A história é relativamente simples. António (nome fictício) preparava-se para iniciar o exame quando o vigilante da prova decidiu recolher os dicionários que os estudantes tinham consigo. "Pegou no meu, um dicionário de Inglês/Português, que estava a cerca de um metro da mesa onde eu estava sentado, e disse-me que mo devolvia no final da prova", contou o aluno ao PÚBLICO.
Quando acabou o exame, António tentou reaver o dicionário, mas sem sucesso. "O vigilante, que por acaso até era um aluno que eu conhecia, informou-me que teria que mostrá-lo ao assistente da disciplina", explicou. Dentro do dicionário, estava "um índice da matéria, uns tópicos", que António anotou à medida que foi estudando para a prova, alega o aluno da UP.
"Mesmo que tivesse intenção de copiar, que acho que foi o que pensaram de mim, nunca teria hipótese de responder ao exame com base naqueles apontamentos", garante António.
Depois do incidente, o estudante enviou um "e-mail" ao assistente da cadeira, pedindo-lhe "para esclarecer a situação". Como resposta, obteve apenas que "o caso iria seguir os procedimentos normais". "Depois ainda lhe telefonei e enviei um segundo 'e-mail', disponibilizando-me para dar todos os esclarecimentos", assegurou António.
A 20 de Dezembro, já depois de ter feito os restantes exames previstos no plano curricular, e a três dias de regressar a Portugal, António recebeu uma carta da universidade, informando-o que durante seis meses não poderia concluir a disciplina e que a instituição havia decidido cortar relações com a UP, não recebendo assim mais estudantes do Porto. A missiva acusava o aluno de mau comportamento durante um exame.
António queixa-se de que uma carta semelhante a esta chegou à UP a 14 de Dezembro, antes de ele próprio ter sido notificado da decisão. O pior mesmo, considera, é que foi "julgado sumariamente", sem ter tido hipótese de se defender. Por este motivo, enviou, a 31 de Janeiro último, uma carta ao reitor da escola finlandesa, a solicitar que o processo seja reaberto. "Pelo menos quero ter direito a defesa", esclareceu.
Francisco Ribeiro da Silva, vice-reitor e provedor do estudante da UP, confirmou ao PÚBLICO que a instituição foi notificada de que a congénere finlandesa pretende não voltar a receber alunos do Porto. "Havia uma relação de intercâmbio prevista para durar entre 2004 e 2006. Se a situação não for revista, o próximo ano lectivo deverá ficar em branco", adiantou.

Copiar é "proibido"

No ano lectivo 2004/05, a UP enviou para a Finlândia 14 estudantes; dois destes foram para universidades de Helsínquia - António é o único aluno do Porto na escola em questão. Em sentido inverso, chegaram da Finlândia sete estudantes, dois dos quais também originários de escolas da capital. Da universidade que decidiu cortar relações com a UP apenas um estudou no Porto.
Francisco Ribeiro da Silva faz questão de sublinhar que António "é um excelente aluno" e que "foi condenado apenas com base num hipotético processo de intenções". Num artigo que escreveu para uma "newsletter" da UP, o provedor do estudante questiona-se se o incidente "terá sido suficientemente grave para levar a um corte nas relações de mobilidade" mas aproveita o caso para lembrar aos alunos que "têm que assumir que a única forma lícita de 'fazer pela vida' é estudar e trabalhar com seriedade e exigência".
No mesmo artigo, Ribeiro da Silva informa que na página da universidade na Internet lê-se, preto no branco, que "cheating is strictly forbidden" - copiar é totalmente proibido.
A UP já escreveu para a congénere finlandesa manifestando a intenção de reatar as relações entre ambas as instituições. "Parece-nos que, de um caso individual como este, não pode haver uma transposição para o plano institucional", comenta Ribeiro da Silva.

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